terça-feira, 24 de setembro de 2013

Matéria: O Batman: A trajetória multimídia-Parte 1



Pessoalmente conheci o Batman através de uma série de TV produzida entre 1966 e 1968, com Adam West e Burt Ward nos papéis de Batman e Robin que os imortalizaram, e exibida no Brasil por décadas. Criada propositalmente com a conotação do chamado "humor camp", muitos levaram à sério o que deveria ser uma diversão descompromissada.

A série foi um sucesso sem precedentes em sua época... Deu início a primeira onda chamada "Bat-Mania", salvou as HQs do herói da ameaça de cancelamento na época por baixas vendas, popularizou o personagem em todo mundo e tornou-se líder de audiência em vários países onde foi exibida...Cada episódio era uma superprodução em termos de custo nos anos 1960...E levou o Batman pela primeira vez aos cinemas na forma de um filme longa-metragem.
Já na metade dos anos 1980... Veio a minissérie em HQs Best seller de Frank Miller, "O Retorno do Cavaleiro das Trevas", que de certa forma não recriou, mas sim resgatou os conceitos originais do Homem-Morcego nas HQs de Bob Kane e Bill Finger, como um personagem gótico, impiedoso e violento.
O sucesso da minissérie de Miller influenciou todos os roteiristas posteriormente, e Batman foi ganhando tons cada vez mais soturnos...Se tornando cada vez mais gótico, sinistro e violento...E com isso cativando uma nova geração de fãs, menos inocentes que a prole da psicodélica década de 1960, fãs condizentes com um mundo mais violento e sinistro em vários aspectos...E essa tendência foi seguida nos cinemas em 1989 e 1992 pelo diretor Tim Burton.

A partir daí, toda geração que conheceu o Homem-Morcego "das Trevas" passou a abominar a série televisiva sessentista, como algo bizarro, que difamava a imagem do herói, e qualquer fã que defendesse o seriado era sumariamente bombardeado pelos fãs do morcego da geração Miller... 


...Porém, recentemente, uma nova onda nostálgica promovida pelo lançamento de dezenas de itens de merchandising inéditos do Batman de 1966, antes restritos por um impasse de direitos autorais entre a Fox, produtora da série, e a Warner, detentora da marca registrada Batman, agora em acordo deram a sonhada liberdade para produção de itens inspirados no seriado como HQs, action-figures, Toy Art, Die Cast, memorabilias entre outros, fazendo dezenas de fãs que antes criticavam a série (sem muito conhecimento de causa) agora defende-la usando a argumentação do "Cult”... Em alguns casos, certamente o amadurecimento do fã pode ser a causa dessa mudança de opinião, sendo a maturidade a principal razão para o mesmo entender melhor a série, sua importância e significado de sua época...Mas em muitos e muitos casos, ainda que jamais vão admitir, é hipocrisia mesmo, e a motivação para defender a outrora repudiada produção, nada mais é que um impulso consumista motivado pela onda nostálgica revitalizada nos produtos recém lançados.
O diretor Joel Schumacher tentou em 1995 resgatar nos cinemas o visual psicodélico dos anos 1960 no filme "Batman Eternamente", incluindo a parceria com Robin abolida há anos nas histórias do Batman. Os tons góticos dos filmes anteriores de Tim Burton foram substituídos por Schumacher em uma Gotham City mais colorida, com uma luxuosa apresentação circense, gangues tatuadas com tintas fosforescentes e até uma Bat-Caverna e um Batmóvel iluminados com luzes de neon. Parte do humor camp do seriado sessentista foi incluído nesse filme, ainda que de forma mais subliminar... E as mudanças deram resultados positivos, nas bilheterias e até entre os fãs...E hoje muitos que elogiaram agora criticam a produção. 
O sucesso fez a Warner novamente contratar Joel Schumacher para dirigir a continuação da franquia nos cinemas, e com mais liberdade, Schumacher maximizou seus conceitos em "Batman & Robin" de 1997... Talvez a intenção do diretor estadunidense fosse resgatar ainda mais o clima leve do Batman dos anos 1960, em entrevista Schumacher chegou a declarar que achava que o público havia se cansado do Batman depressivo que vivia eternamente lamentando a morte dos pais, e sua intenção era resgatar um clima mais "familiar" presente na série sessentista, incluindo além de Robin também a Batgirl, e estreitando a relação paterna do mordomo Alfred com Bruce Wayne, mas não funcionou... O exagero no humor camp, não mais funcional para o herói recriado nas trevas na década anterior...A exagerada exploração de fetiches eróticos nos personagens, explorados em roupas de borracha justas com mamilos esculpidos e imagens em close-up de suas nádegas ao vestirem seus trajes...O excesso de cores na fotografia do filme...Somados a um roteiro infantil fizeram um fracasso de crítica e bilheteria que afundou a franquia tão lucrativa deixando o Batman fora dos cinemas pelos 8 anos seguintes. Justamente porque Batman & Robin de 1997 não refletia mais o personagem como fora apresentado a toda geração dos anos 1980 e primeira metade dos anos 1990 nos filmes anteriores, TV e HQs.
Em 2005, Christopher Nolan resgatou novamente os conceitos originais do personagem soturno, vingativo e violento com "Batman Begins", dando início a uma nova trilogia de sucesso, com uma conotação mais realista em clima de suspense policial, que tornou o Homem-Morcego novamente líder nas bilheterias cinematográficas.


Seria então a "fórmula" infalível de sucesso manter eternamente o Batman como o "Cavaleiro das Trevas"? Como um reflexo do lado mais obscuro, violento e vingativo da sociedade?

Para refletir sobre isso, é preciso relembrar uma década que pulamos nas analises do herói acima... A década de 1970...Onde o escritor Denny O' Neil em dupla com o desenhista Neal Adams trouxeram o Batman nos quadrinhos de volta as suas raízes em histórias inesquecíveis, mas em meio-termo, sem o humor exagerado, mas também sem o clima depressivo e violento imposto na década seguinte...Nessa época, o Batman era sombrio nas trevas quando precisava ser, mas também é humano e humilde na luz quando necessário, o Batman sabia ser violento e implacável em combate, mas também sabia ser amigo e bem humorado com seus próximos...O herói se tornava mais "super" por seus ideais e exemplos deixados por seus pais, do que por uma vingança pessoal por suas mortes.
O conteúdo e clima dessa época é bem refletido na série animada "Batman-The Animated Series" de 1992, onde o roteirista e produtor Paul Dini e o ilustrador, animador e produtor Bruce Timm adaptaram de forma magistral diversas HQs clássicas de O' Neil e Adams da década de 1970 em episódios da série, incluindo elementos dos filmes de Tim Burton que eram o sucesso do herói nos cinemas na época. Tudo de forma tão equilibrada que renderam diversos prêmios da imprensa, consagração pelos fãs e tornaram a série para muitos a melhor adaptação do Batman além das HQs, determinando um estilo de animação seguido até hoje.
De maneira similar em 2011 o produtor James Tucker resgatou o clima do seriado e dos quadrinhos de Dick Sprang da década de 1960 na série animada Batman: The Brave and the Bold (Batman: Os Bravos e Destemidos) onde o tom mais sombrio das animações anteriores do Homem-Morcego foi substituídos por roteiros mais bem-humorados, porém sem ser um humor pastelão. A série tem uma conotação mais infantil sem ser algo abobalhado... Ainda em parceria com o herói traz tanto diversos heróis da chamada Era de Ouro dos Quadrinhos dos anos 1940 quanto mais contemporâneos sem parecerem datados...


E apresenta vilões obscuros e pitorescos, mas sem uma apresentação tão caricata.
Enfim, desde 1939 quando foi criado, o Batman sempre trouxe elementos condizentes com cada década, que cativaram diferentes gerações com pontos positivos e negativos. Equilibrar os pontos positivos de cada época para moldar o personagem, sem ignorar suas raízes de sucessos passados, talvez seja a melhor apresentação do mesmo... Sintonizando o Homem-Morcego com os tempos atuais e futuros, porém sem jamais menosprezar os elementos passados, não só pela nostalgia, mas por serem os alicerces que consolidaram o super-herói em um sucesso multimídia que atravessa décadas e cativa geração após geração de fãs.
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