segunda-feira, 21 de julho de 2014

Marvel: O futuro mesmo está nas outras mídias.



Um tema recente nos debates nas rodas virtuais entre leitores de HQs, surgiu do anúncio do editor Joe Quesada que o Capitão América passará seu escudo para Sam Wilson, alter-ego do Falcão, que será o novo Capitão, depois dos eventos que fazem o Capitão América perder o efeito do super-soro.
A Marvel, também, anunciou que vai substituir o Thor por uma versão feminina, e que essa não será temporária, e sim passará a ser a única existente, “A” Thor do Universo Marvel diferente de versões anteriores. Além disso, Homem de Ferro ganhará uma nova armadura, se mudará para São Francisco e passa a ser intitular como Homem de Ferro Superior.
Porém a grande polêmica em cima desses anúncios de “mudanças drásticas” não gira em torno das mesmas, mas no conceito de todas serem reciclagens de ideias já usadas no passado, e o pior, da em geral imprensa "leiga" ter comprado as premissas como algo novo e inovador.
A nova formação dos Vingadores nos quadrinhos será conhecida como Avengers NOW! A nova equipe contará com a Trindade Vingadora reformulada: "A" Thor, Homem de Ferro "Superior" e o Capitão América Falcão, além deles teremos também Dr. Estranho, Homem-Formiga, Feiticeira Escarlate (ambos estreando no cinema nos próximos anos), Soldado Invernal, Deathlok  
(em uma versão idêntica com a vista na série Agents of S.H.I.E.L.D. ), Inferno, Angela e Medusa.  


Um Capitão América negro na cronologia da própria Marvel existiu antes mesmo de Steve Rogers, na série de HQs Capitão América Truth: Red, White & Black de 2003, com roteiros de Robert Morales e arte de Kyle Baker, foi apresentado Isaiah Bradley, um soldado afrodescendente preparado para missões secretas que serviu de cobaia em um projeto para replicar a fórmula do Dr. Erskhine
Bradley sobreviveu à experiência, mas acabou descartado pouco antes de Steve Rogers ser aprovado no teste com o soro original. 
Além de Eli Bradley, seu neto, uma versão "Teen" do herói, que após uma transfusão de sangue com seu avô herdou elementos do supersoro, e com o nome Patriota tornou-se membro do grupo Jovens Vingadores.
Eli Bradley, o Patriota
Criar uma Deusa do Trovão como Thor também está longe de ser novidade original. Na linha editorial "O que aconteceria se…" da Marvel, em 1978 Jane Foster é transformada em Thordis (Cacildis); em 1999 devido a engano de Odin provocado por Loki, uma versão feminina do herói foi apresentada na minissérie Terra X, que mostra um futuro alternativo do Universo Marvel; em 2000 ainda tivemos Tarene, a Garota Thor criada por Dan Jurgens e John Romita Jr. na linha editorial regular. Sem contar Torunn, a filha adolescente de Thor no longa metragem animado Next Avengers: Heroes of Tomorrow (no Brasil, Os Vingadores: Os Heróis do Amanhã) de 2008.  

Na nova "original" premissa, algum erro do filho de Odin o torna indigno de empunhar o místico martelo Mjölnir, uma mulher ainda não revelada após erguer a mítica arma assume o papel de Thor, e o Deus do Trovão original passa a atuar com outra arma, o também místico machado Jarnbjorn. O que no meu entendimento ainda não faz muito sentido, é o fato de a personagem ser chamada “Thor”, afinal esse é o nome próprio do herói Deus do Trovão, e não um título ou codinome como Capitão América ou Homem de Ferro.

Já o Homem de Ferro “Superior” mostrará Stark com um enorme ego ambicioso, astuto e egoísta em São Francisco vendendo beleza, perfeição e até imortalidade através de uma versão em app mobile do vírus extremis. Fato que jogará o status de herói do Homem de Ferro no lixo com parte da população a favor e parte contra... Como se o pobre Tony já não tivesse sido escorraçado o suficiente em arcos de HQs como Guerra Civil...





Enfim, nada de "Novo" no reino da Casa de Ideias... Nada de ideias originais novas, apenas reinvenções de premissas já usadas anteriormente. Mas a Marvel em seu marketing feroz vende tudo como inovador, original, diferente... Porém, apesar de certamente haver ainda jovens e incautos leitores que comprarão as premissas pseudo-inovadoras, há uma proporção ainda mais significativa de outros que conhecem de cor as artimanhas caça-níqueis usadas tanto pela Marvel, como pela concorrente DC Comics; e  tais estratégias podem ser um tiro pela culatra, afastando mais leitores fiéis do que agregando novos, prova disso está na crescente queda nas vendas de quadrinhos nos EUA, já de 8% em comparação a 2013 segundo o site The Comics Chronicle, refletida em números abaixo até mesmo de 2004, considerado um dos piores anos para esse mercado.
É fato provado por bons editores e escritores que não há personagens ruins, há sim editores e escritores ruins; e lamentável quando imagino o quanto a Marvel poderia explorar melhor personagens secundários de maneira original, heróis já clássicos como o próprio Falcão, a guerreira asgardiana Valquíria ou mesmo a recém-adquirida Ângela e tantos mais similares, elevando conceitos dos mesmos também ao primeiro escalão no elenco de ícones da editora, mas sem respeitar suas características originais, optam por reinventá-los, sempre é claro de forma temporária; pois alguém duvida que é questão de tempo para tudo voltar a premissa original?

Hoje as coisas se inverteram comparando com meus tempos iniciais e didáticos nos quadrinhos; antigamente filmes e principalmente desenhos animados eram ferramentas das editoras para agregar novos leitores, e tudo funcionava bem. Conheci Batman e Cia com o seriado de 1966, minha introdução no universo DC foi com Superamigos da Hanna-Barbera; a Marvel entrou em minha vida com os seus famosos primeiros desenhos desanimados, etc.; e por gostar disso tudo fui levando aos quadrinhos quando comecei aprender a ler. 

Mas vejo hoje o processo inverso, onde cada vez mais outras mídias como o Cinema, TV, Games e até Toys ditam o sucesso inicial, e os quadrinhos são um veículo derivado dessas mídias que servem para manter as mesmas ativas junto aos fãs das franquias entre uma produção e outra. Daí exemplos como vemos na Marvel, que penso deverá seguir mesmo seu universo cinematográfico em linhas editoriais, a DC logo deve embalar na mesma onda com séries de TV que estão agradando como Arrow e logo mais Flash

Temos o surgimento cada vez maior de HQs derivadas de games, como Batman: Arkham City, Injustice: Gods Among Us, Halo, Assassin's Creed, Gears of War, World of Warcraft, God of War, etc...

Além das já tradicionais HQs criadas para promover franquias originais dos Toys como Masters of the Universe, Transformers, G.I. Joe entre outras.
Presumo que assim será o futuro dos quadrinhos, em tempos em que cada vez mais há jovens que não gostam de ler, e com tantas opções de entretenimento disponíveis, as HQs serão mesmo apenas um instrumento promocional para os segmentos de filmes, desenhos, games e brinquedos, mídias que no passado promoviam as HQs tanto ou mais que elas mesmas.





2 comentários:

victor88 disse...

otima resenha, é exatamente essa a impressão que eu tenho para o futuro dos quadrinhos, apenas uma mídia que serve para complementar as outras. É uma pena.

Marcelo disse...

Olá Eder...

Excelente resenha. Acredito (particularmente) que os quadrinhos não acabarão, porém poderão sim perder cada vez mais prestígio. Isso porque os quadrinhos são na verdade o repositório de ideias onde os detentores das outras mídias vem buscar inspiração. Mas é uma pena que justamente a mídia-mãe sofra essa crise incrível de criatividade. E o remédio tem sido o pior possível, ou seja, "Soluções Polêmicas e Imediatistas"..

Abraço!!

Marcelo.