Um tema recente nos debates nas
rodas virtuais entre leitores de HQs, surgiu do anúncio do editor Joe Quesada que o Capitão América
passará seu escudo para Sam Wilson, alter-ego do Falcão, que será o novo
Capitão, depois dos eventos que fazem o Capitão América perder o efeito do
super-soro.
A Marvel, também, anunciou que vai
substituir o Thor por uma versão feminina, e que essa não será temporária, e
sim passará a ser a única existente, “A” Thor do Universo Marvel diferente de
versões anteriores. Além disso, Homem de Ferro ganhará uma nova armadura, se
mudará para São Francisco e passa a ser intitular como Homem de Ferro Superior.
Porém a grande polêmica em
cima desses anúncios de “mudanças drásticas” não gira em torno das mesmas, mas
no conceito de todas serem reciclagens de ideias já usadas no passado, e o pior,
da em geral imprensa "leiga" ter comprado as premissas como algo novo
e inovador.A nova formação dos Vingadores nos quadrinhos será conhecida como Avengers NOW! A nova equipe contará com a Trindade Vingadora reformulada: "A" Thor, Homem de Ferro "Superior" e o Capitão América Falcão, além deles teremos também Dr. Estranho, Homem-Formiga, Feiticeira Escarlate (ambos estreando no cinema nos próximos anos), Soldado Invernal, Deathlok
(em uma versão idêntica com a vista na série Agents of S.H.I.E.L.D. ), Inferno, Angela e Medusa.
Um Capitão América negro na cronologia da própria Marvel existiu antes mesmo de Steve Rogers, na série de HQs Capitão América Truth: Red, White & Black de 2003, com roteiros de Robert Morales e arte de Kyle Baker, foi apresentado Isaiah Bradley, um soldado afrodescendente preparado para missões secretas que serviu de cobaia em um projeto para replicar a fórmula do Dr. Erskhine.
Bradley sobreviveu à experiência, mas acabou descartado pouco antes de Steve Rogers ser aprovado no teste com o soro original.
Além de Eli Bradley, seu neto, uma versão "Teen" do herói, que após uma transfusão de sangue com seu avô herdou elementos do supersoro, e com o nome Patriota tornou-se membro do grupo Jovens Vingadores.
Eli Bradley, o Patriota
Criar uma Deusa do Trovão como Thor
também está longe de ser novidade original. Na linha editorial "O que
aconteceria se…" da Marvel, em 1978 Jane Foster é transformada em Thordis
(Cacildis); em 1999 devido a engano de Odin provocado por Loki, uma versão
feminina do herói foi apresentada na minissérie Terra X, que mostra um futuro
alternativo do Universo Marvel; em 2000 ainda tivemos Tarene, a Garota Thor
criada por Dan Jurgens e John Romita Jr. na linha editorial
regular. Sem contar Torunn, a filha adolescente de Thor no longa metragem
animado Next Avengers: Heroes of Tomorrow
(no Brasil, Os Vingadores: Os Heróis do
Amanhã) de 2008.
Na nova "original"
premissa, algum erro do filho de Odin o torna indigno de empunhar o místico
martelo Mjölnir, uma mulher ainda não revelada após erguer a mítica arma assume
o papel de Thor, e o Deus do Trovão original passa a atuar com outra arma, o
também místico machado Jarnbjorn. O que no meu entendimento ainda não faz muito
sentido, é o fato de a personagem ser chamada “Thor”, afinal esse é o nome
próprio do herói Deus do Trovão, e não um título ou codinome como Capitão
América ou Homem de Ferro.
Já o Homem de Ferro “Superior” mostrará
Stark com um enorme ego ambicioso, astuto e egoísta em São Francisco vendendo
beleza, perfeição e até imortalidade através de uma versão em app mobile do
vírus extremis. Fato que jogará o status de herói do Homem de Ferro no lixo com
parte da população a favor e parte contra... Como se o pobre Tony já não
tivesse sido escorraçado o suficiente em arcos de HQs como Guerra Civil...
Enfim, nada de "Novo" no
reino da Casa de Ideias... Nada de ideias originais novas, apenas reinvenções
de premissas já usadas anteriormente. Mas a Marvel em seu marketing feroz vende
tudo como inovador, original, diferente... Porém, apesar de certamente haver
ainda jovens e incautos leitores que comprarão as premissas pseudo-inovadoras,
há uma proporção ainda mais significativa de outros que conhecem de cor as
artimanhas caça-níqueis usadas tanto pela Marvel, como pela concorrente DC
Comics; e tais estratégias podem ser um
tiro pela culatra, afastando mais leitores fiéis do que agregando novos, prova
disso está na crescente queda nas vendas de quadrinhos nos EUA, já de 8% em
comparação a 2013 segundo o site The
Comics Chronicle, refletida em números abaixo até mesmo de 2004,
considerado um dos piores anos para esse mercado.
É fato provado por bons editores e
escritores que não há personagens ruins, há sim editores e escritores ruins; e
lamentável quando imagino o quanto a Marvel poderia explorar melhor personagens
secundários de maneira original, heróis já clássicos como o próprio Falcão, a
guerreira asgardiana Valquíria ou mesmo a recém-adquirida Ângela e tantos mais
similares, elevando conceitos dos mesmos também ao primeiro escalão no elenco
de ícones da editora, mas sem respeitar suas características originais, optam
por reinventá-los, sempre é claro de forma temporária; pois alguém duvida que é
questão de tempo para tudo voltar a premissa original?
Hoje as coisas se
inverteram comparando com meus tempos iniciais e didáticos nos quadrinhos;
antigamente filmes e principalmente desenhos animados eram ferramentas das
editoras para agregar novos leitores, e tudo funcionava bem. Conheci Batman e
Cia com o seriado de 1966, minha introdução no universo DC foi com Superamigos
da Hanna-Barbera; a Marvel entrou em minha vida com os seus famosos primeiros
desenhos desanimados, etc.; e por gostar disso tudo fui levando aos quadrinhos
quando comecei aprender a ler.
Mas vejo hoje o processo inverso,
onde cada vez mais outras mídias como o Cinema, TV, Games e até Toys ditam o
sucesso inicial, e os quadrinhos são um veículo derivado dessas mídias que
servem para manter as mesmas ativas junto aos fãs das franquias entre uma
produção e outra. Daí exemplos como vemos na Marvel, que penso deverá seguir
mesmo seu universo cinematográfico em linhas editoriais, a DC logo deve embalar
na mesma onda com séries de TV que estão agradando como Arrow e logo mais
Flash.
Temos o surgimento cada vez maior de HQs derivadas de
games, como Batman: Arkham City, Injustice: Gods Among Us, Halo, Assassin's Creed, Gears of
War, World of Warcraft, God of War, etc...
Além das já tradicionais HQs criadas
para promover franquias originais dos Toys como Masters of the Universe, Transformers,
G.I. Joe entre outras.
2 comentários:
otima resenha, é exatamente essa a impressão que eu tenho para o futuro dos quadrinhos, apenas uma mídia que serve para complementar as outras. É uma pena.
Olá Eder...
Excelente resenha. Acredito (particularmente) que os quadrinhos não acabarão, porém poderão sim perder cada vez mais prestígio. Isso porque os quadrinhos são na verdade o repositório de ideias onde os detentores das outras mídias vem buscar inspiração. Mas é uma pena que justamente a mídia-mãe sofra essa crise incrível de criatividade. E o remédio tem sido o pior possível, ou seja, "Soluções Polêmicas e Imediatistas"..
Abraço!!
Marcelo.
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